terça-feira, 5 de janeiro de 2010

AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esqueçer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simplesmente ânsia?


Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pela coisa pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa incratidão,
e na conha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.



     DRUMMOND DE ANDRADE, C

                                                                                   ESC

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